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quinta-feira, 6 de março de 2008

Assassinatos na Academia Brasileira de Letras - Jô Soares


O livro narra um ficto mistério acerca de assassinatos cometidos na Academia Brasileira, no ano de 1924.

Com muita destreza, Jô faz uma miscelânea gostosa de ficção e realidade, recheando as páginas dos livros com famosas personalidades da literatura brasileira, acontecimentos históricos marcantes, como a “ereção do corcovado” e inúmeros personagens caricatos, engraçados, muito bem bolados.

A história conta também com capítulos “picantes” narrando as aventuras sexuais do personagem principal do mistério. Jô Soares consegue fazer com que os momentos eróticos do livro sejam envolventes, quentes (como deve ser um erotismo que se preze), mas, ao mesmo tempo, sem vulgaridades.

Quando imortais do Petit Trianon começam a “bater as botas” escancarando uma mortalidade triste, o comissário Machado Machado (isso mesmo, duas vezes Machado), depois de ter demonstrado estar intrigado com os fatos, é nomeado para a investigação do caso.

Machado Machado é uma versão tupiniquim de Sherlock Holmes, com pitadas do galanteador James Bond. O personagem tem olheiras cavas (por isso era apelidado “coruja”), roupas de um típico malandro carioca, e um jeito boêmio que exala dos parágrafos durante a leitura. Recebeu esse nome inusitado devido à paixão de seu pai pelo escritor Machado de Assis.

O nome e a herança da vontade de ler (especialmente o homônimo “de Assis) faz Machado ser extremamente interessado pela obra do seu “xará”, fazendo inúmeras citações da sua obra, no desenrolar da história. “O homem da palheta”, assim conhecido, pois sempre circulava com o seu estimado chapéu feito palhas trançadas, conta com a ajuda de um “Watson”, também “abrasileirado” concretizado pela figura interessante do médico legista Gilberto Penna Monteiro.

Como não poderia faltar uma mocinha, a heroína da história ficou por conta de Galatéa, filha de um dos imortais, que mostra além de ousadia, determinação e grande conotação sexual, que na verdade verdadeira, todo homem precisa de uma mulher para ser gente grande.
O primeiro encontro do casal é carregado de uma sensualidade fantástica e deixa os leitores chocados e admirados com a desenvoltura da moça.

Segue abaixo o trecho do encontro:

“O comissário Machado Machado sorriu e confessou:

- Estou me sentindo frustrado com a investigação desses crimes. Talvez nossa conversa me ajude a entender o que se passa na Academia.

A bela Galatea interrompeu:

- Papai, por que é que, antes de começar, não oferece ao comissário o famoso café do Nordeste? Só você sabe a receita secreta que mamãe deixou.

Euzébio Fernandes extraiu seu corpanzão da bergère.

- Boa idéia, minha filha. O comissário aceita um cafezinho?
- Com muito gosto.


O grande poeta dirigiu-se à cozinha, e o Coruja viveu um dos episódios mais angustiantes da sua vida. Quando Euzébio saiu pela porta da copa, Galatea, em silêncio, levantou lentamente a blusa, exibindo os mais lindos seios que Machado já tinha visto. Eram fartos e rijos, de bicos rosados. Ela o fitava com um sorriso de Mona Lisa. Molhou a ponta dos dedos com a língua e acariciou os mamilos, deixando-os ainda mais túrgidos. Seu olhar reluzia, carregado de promessas.

Tudo isso enquanto Euzébio Fernandes preparava a famosa infusão. Machado, aturdido, temia que o acadêmico voltasse de repente, surpreendendo a cena esdrúxula. Alheio ao que acontecia na sala, Euzébio, coando o café, falava alto, sem parar:

- Esta receita da minha querida Quitéria é de beber ajoelhado. Quitéria morreu tísica, coitadinha. Dava pena ver aquele mulherão definhando. Não é, filhinha?
- É, papai - disse Galatea, sem suspender a exibição erótica.
O poeta continuou, mudando de tema:
- Não sei se tenho informações que lhe permitam desenrolar esse novelo. O que quer que eu conte sobre a Academia?
- Qualquer coisa - sussurrou o Coruja, quase rouco, observando Galatea contorcer-se de prazer.”

Eu li o livro físico, o que considero a forma correta e melhor para a leitura, mas, encontrei a forma digitalizada na Internet. Segue o link para quem quiser. ( Não garanto que esteja fiel ao original, porque não o li).

http://www.directlink.net.br/~sushi/sushi/JoSoares.pdf

O livro é ótimo, desenrola-se muito bem e os mistérios são bastante envolventes. Está recomendado.


2 comentários:

Anônimo disse...

"todo homem precisa de uma mulher para ser gente grande."

Amei a sua frase!

Só podia ser sua mesmo, moça!

E quanto ao livro, confesso que fiquei escitada só de ler esse trecho! Vou correndo comprá-lo, porque ler em pdf é muito ruin!

Beijinhos!

July

Ramon Pinillos Prates disse...

Pode até escrever bem, mas como apresentador de tv ele é uma negação. Quer dizer, o programa dele já foi legal, mas atualmente está bizarro!
eheheheheh