Domingo é dia de ir na feira... comprar frutinhas e verduras fresquinhas e gostosas. Como de praxe, antes de ir ao objetivo, sempre passo na frente das lojas de animais e flores, só pra admirar...
Semana turbulenta, caos mental... paixão à primeira vista por um filhote de pinche. JESUS! Um pinche? Sempre odiei essa raça... recordações péssimas da cadela de um ex-namorado... cachorro histérico e cheio de vontade.
Mas o bebê olhava pra mim dentro dos olhos e parecia entender tudo que se passava dentro de mim. Perdi algumas horas na frente da jaula... contato, carícias, mordidas, lambidas... ele até esticava as patinhas pra fora tentando me abraçar. Um pinche? Pra mim? Não pode ser...
Aproveitei que dois garotinhos se aproximaram dele e fui me afastando devagar... cada passo pra trás, me lembrava que eu teria que dar comida, água, sair pra passear... e o bebê ignorava os meninos e me olhava como se dissesse "ei! e eu?".
Pensei no meu tapete de couro mijado, na minha cristaleira roída, meus sapatos lascados... continuei andando pra trás...
De repente voltei pra perto do bichinho e perguntei em voz alta: "você promete que não vai fazer bagunça?"
Ele latiu e pulou na grade. Aí o cérebro voltou a racionalizar: "ele vai passar os dias inteiros sozinho, Tarcila?"... mais um passo pra trás...
Outro garotinho se aproximou e dessa vez eu fui mais determinada no afastamento...
De longe ainda via o bebê fazer carinha de "cachorro sem dono"...
Fui fazer a feira. Nem quis saber de olhar as lojas de flores. Depressão total.
Quando ia embora, o marido ofereceu me dar uma orquídea (que eu já desejava a muito tempo).
Mas, hoje, eu não queria a orquídea, queria o filhote de pinche. Rodei as floriculturas enquanto calculava todos os prós e contras de ter um cachorro. A paixão por ele continuava pulsando e meu instinto era de agarrá-lo e levar pra casa. E a mente respondia com tantos obstáculos objetivos que me desanimava.
Aí eu vi Dorotéia. Quem é? Minha orquídea, presente do Marido: listrada e linda. E sim, eu batizo todos os meus filhotes... vivos, inanimados, racionais ou irracionais.
Não era o que eu tinha em mente, mas é muito bem vinda e me faz feliz.
Aproveitei e levei também um girassol pra combinar com o sol que tem feito esses dias.
Enquanto carregava Dorotéia e o girassol, a caminho do carro, olhei de longe o cachorrinho. O coração apertou e eu engoli o "seco". Segui em frente apertando Dorotéia contra o peito. Aquilo era o certo a se fazer... e nem sempre o certo nos faz feliz, mas é o certo.
E agora, Dorotéia já está em casa. Ela não me olha nos olhos, nem late, nem faz carinho... mas é linda... e toda vez que olho pra ela, sinto orgulho de uma filha tão vistosa.
Manhã de domingo bem peculiar, hein? Uma metáfora da vida.
Olhem as fotos da minha bebê, não é linda?:
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